quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FuJão!

por Chico Brinati



Não sei bem o motivo pelo qual ele resolveu ir embora. Só sei que, da noite para o dia, ele desapareceu. Sua presença nos corredores da Facom foi substituída pela notícia que ecoava: Fubangu fugiu! Uns riam, outros temiam, poucos entendiam. Sempre se espera um por quê. Por que João Paulo de Almeida Siqueira Oliveira, o João Fubangu, resolvera deixar toda uma vida universitária sonhada para trás? No seu caso, não busquem respostas. Quando se trata dele, elas sempre vêm carregadas de muita complexidade.

Desde o princípio, ele já mostrava indícios de que seria um nome marcante da Comunicação, um dos líderes do Noturno. Foi abusado quando, na preparação da nossa calourada, tomou o megafone vestido de Zé Carioca para cantar Raimundos no calçadão da Halfeld. Questionou Gilbertão, bebeu com ele. Foi corajoso ao enfrentar um ônibus que o pressionava contra um cavalete numa manifestação dos alunos da UFJF. Sempre tinha uma faísca a mais para esquentar os calorosos debates na “arena” da sala. Ao mesmo tempo que polemizava, formava uma das duplas mais complexas da turma com o famigerado-por-metal Léo e o seu “Paranóia”. Rubro-negro alucinado criou o mítico e arisco goleiro Tanajura no futsal, no entanto, nunca foi dos melhores quando a bola rolava no videogame. Assustou a todos com uma internação às pressas para tratar de uma trombose. Ganhou popularidade e veio a ser o presidente do D.A., conduzindo com maestria e descontração o processo eleitoral para a direção da Facom, em 2002. Divertiu-se bastante por festas estranhas, com suas danças esquisitas. Apaixonou-se. E como se apaixonou. Viveu muitos e intensos amores nestes períodos. Perdeu o DCE, ganhou o PET. Seguiu sua vida acadêmica por “trilhas” que mudaram o seu modo de encarar a vida. Dizem que, por lá, recebeu um sinal de outro planeta para isso. Escreveu belos e criativos textos, criou um movimento variado de artigos da série: “ode a...”. Com isso, desbravou os jornais da cidade para todo o resto da turma. Quase no fim, mostrou-se uma pessoa forte, superando a inesperada ausência de Seu Lúcio e assumindo os negócios da família, junto com seu eterno escudeiro: Lucinho. Orgulho para Dorinha e ídolo para a irmã. Fubangu idealizou demais a Facom. Passou por estas e outras diversas experiências e, às vezes, parecia estar inconsciente ao que acontecia a sua volta.

A Faculdade foi, para o grande Fubangu, uma fuga, uma abstenção de tudo o que tinha sido sua vida até então. Fuga de si mesmo. Fuga do João-menino. Fuga para a maioridade.“Na Faculdade pude ser eu mesmo”. Pelo bem da Facom, a sua escapada em outubro de 2002 foi rápida. Deu só um pulo na capital mineira. Mesmo assim, foi tempo bastante para sentirmos a sua falta. Falta que espero não sentir depois que fugirmos juntos desta universidade.

João foi um personagem polêmico no campus. Louco para alguns, “peralta sem estribeiras” para ele. Para mim, um sujeito de bom coração, humano no que se tem de bom ou de mal nisso, um irmão.

Criatividade, coragem e destreza aliadas neste nome que, com certeza, irá figurar entre os grandes do jornalismo que já passaram pela UFJF. Genial e genioso, João Paulo viveu a Comunicação na linha tênue entre o amor e o ódio. Ode ao João.